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 Sem dúvidas, o Nubank é hoje um dos principais bancos digitais por usuários do mundo. No entanto, após o seu IPO na bolsa de Nova York, quando se tornou o mais valioso da América Latina, o seu valor de mercado caiu vertiginosamente. Descubra o que aconteceu com as ações do Nubank e o que outras instituições podem aprender através da sua impressionante narrativa.



Desde seu lançamento, em 6 de maio de 2013, o colombiano David Vélez, o americano Edward Wible e a brasileira Cristina Junqueira, a fintech brasileira Nubank criou soluções tecnológicas inovadoras para uma área tradicionalmente burocrática e onerosa – o sistema bancário do Brasil.

Através de pagamentos online e móveis, big data, finanças alternativas e gestão financeira, o Nubank explorou o gap de um tecido arcaico para proporcionar o acesso de milhões de pessoas às ferramentas financeiras de forma simplificada, alcançando o status de startup unicórnio e se tornando, pouco tempo depois, a primeira startup do país a atingir a marca de US$10 bilhões.

Em uma rápida ascensão, seu IPO, realizado em 09 de dezembro de 2021, foi uma das ofertas públicas iniciais mais esperadas de uma empresa estrangeira de tecnologia financeira nos EUA, com grandes nomes investindo na companhia, incluindo Tencent Holdings, Sequoia Capital e Berkshire Hathaway, de Warren Buffett.

Mais que isso, a Nu Holdings (holding do Nubank) conquistou números ainda mais notáveis: consolidou-se como a 3ª empresa privada mais valiosa do país (atrás apenas de Vale e Petrobrás), tornou-se o banco digital mais valioso da América Latina e conquistou 60 milhões de usuários em 2022 (excedendo o total do Bank of America).

Entre os motivos do seu sucesso, 8 lições de experiência do cliente compartilhadas por Cris Junqueira se destacam para garantir uma percepção de marca positiva diante do público e construir uma cultura organizacional forte dentro de um companhia.


Hoje, no entanto, o que parecia improvável aconteceu. Pouco mais de seis meses da sua estreia na bolsa norte-americana, o valor de suas ações caiu cerca de 65% e seu valor de mercado se deteriorou – passando de US$ 41,5 bilhões para US$ 16 bilhões. Entenda a seguir como e por que isso aconteceu.


Por que as ações do Nubank caíram tanto?


O Nubank, que em dezembro de 2021 valia mais que o Itaú, hoje vale cerca de um terço desse valor. E pior, no mesmo período, seus principais concorrentes não sofreram a mesma volatilidade. Itaú Unibanco permaneceu com um valutation de US$ 42,15 bilhões e o Bradesco de US$ 36,04 bilhões, respectivamente (até a data de publicação deste artigo).


Todo banco (digital ou não) é uma instituição financeira que oferece aos consumidores uma maneira de administrar seu dinheiro, ter acesso a crédito e depositar seu dinheiro de forma segura. Com o Nubank, isso aconteceu por meio de serviços mais eficientes e menos burocráticos (muitos até gratuitos) no universo digital.


Aumentando a sua base de clientes de modo exponencial, o banco continua, segundo nota oficial, totalmente confiante e comprometido com a criação de valor no longo prazo. Vejamos os fatores que, segundo analistas ouvidos pela BBC News Brasil, explicam essa assustadora queda de ações.


Os desafios do cenário macroeconômico internacional

Desde a crise sanitária provocado pelo COVID-19 e a eclosão da guerra entre Rússia x Ucrânia, a conjuntura econômica internacional tem se alterado diariamente: perspectivas voláteis de crescimento econômico, inflação, oscilações em políticas monetária e fiscal, dentre outros, têm sido alguns dos desafios enfrentados pelo cenário macroeconômico.

Segundo João Bragança, diretor de serviços financeiros da Roland Berger, a pressão nas avaliações de mercado das fintechs é uma tendência crescente não só na América Latina, mas em todo mundo. Como consequência, a avaliação de risco dos investidores em uma situação de menor liquidez fica comprometida.

Como se não fosse o bastante, os resultados divulgados pelo banco para o primeiro trimestre mostraram ações abaixo de US$ 4, gerando um prejuízo líquido de US$ 45 milhões. Dito isso, a inadimplência (tanto no pagamento da fatura dos cartões quanto nos empréstimos pessoais) é um fantasma que assombra a instituição. Afinal, a concessão de crédito segue sendo o seu principal produto.


“Sempre que os juros sobem, o crédito fica mais caro. Desestimulam-se o consumo e a tomada de crédito. E o Nubank é uma instituição de crédito. A maior base de receitas deles vem de cartão de crédito, principalmente no rotativo (ou seja, que parcelam), e de empréstimos. (…) As pessoas que se tornaram clientes do Nubank foram atraídas pela promessa de que o banco não cobraria taxas. Ou seja, como monetizar seu negócio se os juros estão muito altos e seus clientes não estão tomando crédito? Isso é um enorme problema”.

Danielle Lopes, sócia e analista de ações da Nord Research.

Esse foi um importante sinal de alerta para a instituição, pois apesar de uma alta de 60,64% na sua base anual de clientes, a inadimplência subiu para 4,2% – acima da média dos bancos tradicionais. À título exemplificativo, os atrasos entre 15 e 90 dias foram de 2,6% para 3,7%, entre o quarto trimestre de 2021 e o primeiro trimestre de 2022.


Questões internas da companhia

Enquanto bancos tradicionais, como Itaú Unibanco e Bradesco, movimentam-se com moderação na linha de concessão de crédito sem garantia (como as operações com cartão), buscando uma maior fidelização de clientes antigos em comparação à captação de novos, o Nubank divulgou um pacote de remuneração agressivo à sua diretoria, acima de R$ 800 milhões, e anunciou que investirá 1% de seu caixa em criptomoedas, mais especificamente o bitcoin.


Para a companhia, apesar dos desafios e das condições macroeconômicas atuais, esse foi o trimestre mais forte na história do Nu, extrapolando a incrível marca de 60 milhões de usuários e uma taxa de atividade recorde de 78%.

Para conseguir esse resultado apresentado no relatório trimestral, a geração de receita da empresa alcançou o recorde de US$ 877 milhões (+226% FXN na comparação com o 1T21), com um custo de aquisição de clientes relativamente baixo – uma vantagem competitiva crucial para permitir que a fintech se mantenha lucrativa apesar de um ticket mais baixo.

Para startups acostumadas a um crescimento rápido, um longo período de condições extremamente desafiadoras no mercado global exige que se adote uma mentalidade diferente, como a de um camelo, por exemplo – animais capazes de sobreviver por longos períodos sem sustento, com o calor escaldante do deserto e ainda se adaptarem às variações extremas do clima.



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